Mobilidade vs Imobilidade: Desafios sociais e psicológicos no Envelhecimento

7 de Maio, 2019 0 Por Planetadosavos

O Planeta dos Avós apresenta hoje outro tema muito importante acerca do envelhecimento: os seus desafios sociais e psicológicos. Ora, numa lógica bastante simples, iremos tentar analisar algumas destas questões, sabendo que o envelhecimento da sociedade é uma realidade inevitável, fruto de uma longevidade cada vez maior, à qual se associam índices de dependência acrescidos, em função do agravamento da morbilidade adquirida previamente e de uma maior vulnerabilidade da pessoa idosa.

Quando o envelhecimento está associado à dependência é fundamental criar condições necessárias para que a assistência nas atividades da vida diária (AVD) promova a dignidade da pessoa que está a ser cuidada, mas também a que está a prestar os cuidados.

De acordo com Sequeira (2007) é necessário refletir que a ação dos profissionais no campo do envelhecimento, é fundamental no sentido de dotarem os cuidadores destes idosos com competências cognitivas (informação), competências instrumentais (saber fazer) e competências pessoais (saber lidar com). Neste caso, ao falar de dependência, isto é, – a “situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia física, psíquica, ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência orgânica, sequelas pós-traumáticas, deficiência, doença severa e/ou incurável em fase avançada, ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue por si só, realizar as atividades da vida diária” (Decreto-Lei, nº 101, de 6 de Junho de 2006) – torna-se relevante falar de mobilidade, imobilidade ou mobilidade reduzida (Sequeira, 2007).

De acordo com Silva (2014) a mobilidade é a capacidade que o individuo apresenta para se movimentar livremente, que requer controlo motor voluntario e sensorial completo para todas as regiões do corpo, conferindo ao individuo capacidade total de suprir as suas necessidades, os seus objetivos e a sua interação perante a sociedade.

A perda parcial da mobilidade pode ser temporária (i.e., fraturas óssea) ou permanente (i.e., AVC), resultando, no limite à imobilidade da pessoa.

De acordo com a mesma autora, existem quatro condições que podem resultar em imobilidade:

1) Inatividade física, como o repouso, que se manifesta pela redução dos movimentos do corpo;

2) A restrição física ou limitação dos movimentos;

3) A restrição nas mudanças de posição do corpo e postura que resulta na perda de habilidade corporal para se adaptar a tais mudanças;

4) A perda sensorial que causa uma redução no estímulo para a movimentação e assim, manifesta-se através de uma inatividade física ainda maior.

Face ao exposto, iremos analisar alguns aspetos acerca do que significa envelhecer no próprio domicílio, ou na comunidade, que se assume como um dos principais desafios sociais e

psicológicos expressos pelas pessoas de mais idade, e simultaneamente uma das metas a serem alcançadas quando se pensa num envelhecimento ativo.

A área que engloba este assunto denomina-se Gerontologia Ambiental, e assume que o envelhecimento não deve ser apenas no domicílio, mas também na própria sociedade, na medida em que o ambiente físico deve ser pensado não apenas através dos atributos físicos, sensoriais, cognitivos e afetivos dos indivíduos, mas também através dos climáticos e funcionais (que nos rodeiam diariamente). Os ambientes amigáveis são aqueles capazes de se ajustarem às competências e preferências dos idosos, oferecendo-lhes um sentido de controlo, autoeficácia e pertinência, que lhes permitam compensar de certa forma as suas limitações, quer seja pelo próprio processo de envelhecimento, quer seja por doenças, ou outras imposições.

De acordo com Perracini (2006, como citado em Pereira, 2012), os idosos expressam o desejo de ambientes que propiciem autonomia, mas com algum grau de cuidado. Isto significa, que ambientes amigos dos idosos, traduzem-se em desenhos arquitetónicos que privilegiam a funcionalidade e não permitam que a imobilidade ou mobilidade reduzida seja um entrave à sua participação ativa na sociedade. A título de exemplo, indicam-se ambientes físicos acessíveis, disponibilidade de tecnologia de assistência, atitudes positivas das pessoas em relação à imobilidade, entre outras.

Lawton (1983, como citado em Paúl, 2012) defende que os espaços para receber idosos com limitações favorecem a independência funcional no exercício de atividades do dia-a-dia, a diminuição de estados de apatia, desinteresse, ansiedade, diminuição do número de queixas de saúde, como dor e fadiga, assim como sentimentos de solidão, tristeza e inutilidade.

Assim, quando se pensa num ambiente urbano, pensasse imediatamente como este pode ser complicado para os mais velhos. Existem efetivamente vários obstáculos que os idosos enfrentam diariamente para viver nas cidades:

(1) Passeios danificados, cheios de buracos e desníveis;

(2) Edifícios sem rampas de acesso ou elevadores;

(3) Transportes públicos com degraus, que exigem demasiado esforço para a entrada e saída de pessoas;

(4) Falta de iluminação natural ou artificial em diversos espaços;

(5) Passeios estreitos, com demasiados obstáculos (postes, caixotes do lixo, caixas de correio, vasos, etc.);

(6) Escadas sem corrimão;

(7) Inexistência de sanitários públicos, entre muitos outros.

Isto tudo significa que ou as cidades implementam acessibilidades adequadas para os idosos e para o perfil das suas populações, ou estes ficarão limitados às suas residências, e no limite, excluídos da própria sociedade.

Mas a imobilidade ou a mobilidade reduzida, em última instância pode conduzir ao aparecimento de perturbações comportamentais que têm uma maior incidência nesta idade, como por exemplo, a depressão.

Weiss (1973, como citado em Paúl, 2012) defende que a solidão emocional é a forma mais dolorosa de isolamento, uma vez que com o avançar da idade a maioria das pessoas idosas reduzem a sua participação na comunidade, o que pode originar sentimentos de solidão

e desvalorização, com efeitos ao nível da integração social e familiar, e ao nível da saúde física e psíquica. Na área intelectual, ocorre a diminuição de capacidades e perturbações de memória que dificultam a aprendizagem. Na área social, ocorre o afastamento dos grupos, a perda de estatuto, o abandono, o isolamento.

Neste sentido, a imobilidade pode acarretar problemas a nível psicológico dos indivíduos, pelo facto de estarem muitas vezes sozinhos, prostrados numa cama, sem contacto com a sociedade, à exceção da família. Além disso, aqueles idosos que estão cingidos às cadeiras de rodas, não tem muitas vezes capacidades para saírem sozinhos e quando o fazem, os acessos são incrivelmente escassos, dificultando a sua saída. Apontam-se então algumas soluções como:

– O aumento do número de bancos nas cidades;

– Aumento da iluminação;

– Facilitar os acessos aos edifícios, através de rampas para as cadeiras de rodas;

– Arranjo dos passeios, pavimentos (para que os idosos mesmo com dificuldades consigam percorrer as ruas; e ainda,

– Criar mais policiamento de bairro (de forma a que estas pessoas se sintam seguras e tenham menos medo de sair de casa (Pereira, 2012).

Finalmente, no limite, envelhecer no meio urbano pode significar correr o risco de acabar a vida cada vez mais só, menosprezado, sem qualquer visibilidade social. Fonseca (2005) conta que para muitos dos idosos que vivem em cidades de grandes dimensões, as redes sociais de apoio são frágeis e o suporte social é insuficiente. Os idosos que vivem nos meios urbanos podem encontrar-se envolvidos no anonimato, com uma menor intimidade entre as pessoas, o que pode resultar numa diminuição da qualidade de vida.

Assim, o envelhecimento é em parte determinado pelo contexto social em que a pessoa envelhece, sendo que o Planeta dos Avós faz um alerta para todos aqueles que diariamente lidam com as pessoas de mais idade, seja direta, seja indiretamente, para que sejam mais sensíveis e capazes de os ajudar a ultrapassar alguns destes desafios.

Referências:

  • Pereira, F. (2012). Teoria e Prática da Gerontologia – um guia para cuidadores de idosos. Viseu: Psico & Soma Livraria, Editora, Formação e Empresas, Lda.
  • Fonseca, A. M. (2006). O envelhecimento: uma abordagem psicológica. Lisboa: Universidade Católica Editora.
  • Paúl, C. (2012). Tendências atuais e desenvolvimentos futuros da Gerontologia. In C. Paúl, & O. Ribeiro (Ed.) Manual de Gerontologia (pp.1-17). Lisboa, Portugal: Lidel – edições técnicas, Lda.