Verdadeiramente Amália Rodrigues nasceu a 1 de Julho, mas só foi registada dias depois, sendo a data oficial do seu aniversário a 23 do mesmo mês. Sem trabalho, o seu pai deixa Amália, em Lisboa, com os avós maternos. Não sei se foi do ar lisboeta, mas Amália começou a cantarolar para os avós e para os vizinhos mais próximos. Na sua infância e juventude, Amália cantava tangos de Carlos Gardel e canções populares que ia aprendendo. Aos 9 anos foi para a escola, que adorava, mas teve de sair aos 12, por falta de dinheiro. Naqueles tempos, a vida era difícil e as pessoas começavam a trabalhar muito cedo. Amália não foi exceção e dedicou-se aos bordados. Com 14 anos, e já com os pais de regresso à capital, Amália foi viver com os progenitores. A vida da fadista piorou: entre ajudar a mãe, aturar o irmão autoritária e trabalhar como bordadeira, engomadeira e nas limpezas, não havia mãos a medir. Com 15 anos, o seu timbre já era notado e diferenciador. Integra a Marcha Popular de Alcântara e é desafiada a participar no “Concurso da Primavera” para ganhar o título “Rainha do Fado”. Amália não participa, porque todas as participantes recusaram-se a competir contra ela. É nesta altura que Amália conhece o seu futuro marido, Francisco da Cruz. Francisco era guitarrista amador.
É em 1940 que Amália se estreia no teatro de revista com a peça “Ora Vai Tu” no Teatro Maria Vitória. Passado três anos, em 1943, Amália decide divorciar-se e tornar-se uma mulher independente. É nesse mesmo ano que canta, pela primeira vez, no estrangeiro. Amália canta em Madrid, a convite de Pedro Teotónio Pereira, embaixador.
Amália nunca mais parou, levou o fado português muito longe. Em 1952, estreou-se em Nova Iorque onde ficou 14 semanas em cartaz, com o espetáculo “La Vie en Rose”. Foi também nos Estados Unidos que a fadista estreou-se na televisão.
A vida de Amália é cheia e rica. Rica de amizades, de música, de canções, de palcos, de cidades, de países, de amor. Amália não teve filhos, mas ao mesmo tempo teve milhares. Creio que os seus filhos são os álbuns e as músicas, os netos.
Amália morre, em sua casa, no dia 6 de Outubro, repentinamente. António Guterres decreta luto nacional de três dias. Hoje, o seu corpo, encontra-se depositado no Panteão Nacional. Afinal de contas, Amália é uma artista.