Idosos na Sociedade…
... África
Zaila é Africana. Nasceu em 1950 e vivia com o avô em Quelimane. Só estudou até à 2ª classe elementar. A sua mãe faleceu aquando do seu nascimento e desde muito nova trabalhou na terra, na agricultura, para ajudar naquilo que era necessário para comer. Era assim que Zaila e o avô, um senhor de idade se sustentavam. Trabalhou a sua vida toda, e hoje, não tem direito a nenhum subsídio, nem a qualquer tipo de reforma. Com uma vida muito complicada, não havia muito para comer. Passou muita fome e de longe a longe, distribuía sementes em troca de outras coisas para comer. Teve sorte e conseguiu fugir a uma das doenças mais graves, a malária. De resto, tratou-se sempre com curandeiros e algumas ervas com propriedades medicinais conhecidas. Mas é a Deus que atribui o facto de ter conseguido chegar a idosa. O seu marido vê a sua posição na sociedade muito diferente comparada com os tempos passados. Enquanto os idosos costumavam ser respeitados, agora já quase não são importantes, sendo muitas vezes uma angustia viverem sozinhos e isolados. É uma vida difícil e tudo é caro. Quando morrerem não sabem como vai ser o seu funeral, nem o futuro de todas as crianças que veem no seu país. Ainda existe muita pobreza. Crianças morrem à fome todos os dias, descalças e com falta de condições dignas para viver, sobrevivem muitas vezes graças à ajuda humanitária que chega dos outros países.
De acordo com um provérbio antigo, “Quando morre um idoso, é como se perdesse uma biblioteca”. Ora bem, seja esse idoso de qualquer nacionalidade ou qualquer região do mundo, tal expressão é linear a todas as regiões do planeta. Em Africa, o mesmo se pode dizer, dado que alguns países deste continente apresentam um índice de envelhecimento bastante elevado.
Particularmente nesta região, o idoso parece ser visto como um ser de imensa sabedoria. Por norma, é quem transmite aos seus sucessores toda a sua cultura e conhecimento que vai adquirindo ao longo da sua vida. Na sociedade Africana o idoso é visto como uma autoridade, tendo a sua posição muito bem delineada dentro das famílias.
De acordo com a literatura no domínio, antigamente os indivíduos eram reunidos junto de uma fogueira para ouvirem o seu líder contar as histórias e partilhar os seus ensinamentos; enquanto, na cidade se vão adquirindo hábitos mais semelhantes com a sociedade europeia, em que o ser idoso já não parece ter uma mais-valia para os mais novos.
Neste sentido, a literatura indica-nos que o indivíduo idoso tinha necessidade de transmitir os conhecimentos, próprios do seu povo, às demais pessoas da comunidade a que pertencia, com o objetivo de manter a sua cultura e a sua tradição ao longo de muitas décadas. Ou seja, os idosos eram “venerados como guardiões das tradições, eram considerados uma enciclopédia do saber que deveria ser passado às novas gerações” (Fonseca, 2008).
Estamos cientes que a região de África é a mais pobre região do mundo, o que implica que o envelhecimento da sua população é em grande parte vivenciado em contextos de pobreza generalizada e de profunda restrição económica. Apesar de atingir a população em todas as faixas etárias, as crianças e as pessoas idosas são sempre as mais atingidas, chegando a viver mesmo no limar da pobreza.
Alguns indicadores sugerem que a incidência da pobreza agrava-se de acordo com a organização das famílias. Isto é, onde existem casas com algum idoso, ou onde existem pessoas idosas a coabitarem com crianças menores de 10 anos e casas onde os chefes de família são os idosos estes, estão em geral, mais sujeitos à incidência de pobreza comparativamente à média geral na população.
Mas a vida em Africa também têm as suas próprias regras e formas de atuar. Em inúmeras investigações efetuadas existem várias famílias com um antepassado comum, que formam o clã. Os clãs formam a tribo ou a etnia/tribo. Existem elementos que unem os membros da mesma tribo, seja, os seus antepassados, o chefe, a cultura, a língua, o território, a história, um sistema político e económico e até uma organização social. Desta forma para os Africanos, fazer parte de uma tribo é tal e qual um dom, pois implica a identidade social e cultural, a segurança do indivíduo e os seus valores. Os chamados “anciãos” são a base da família e da tribo, pois acompanham os membros da família e ocupam um lugar central na etnia. “Encontram-se sempre presentes nos momentos-chave da vida de cada um dos membros da família e presidem à celebração desses momentos: nascimento, iniciação, matrimónio e morte. Conhecem as plantas medicinais e procuram manter a harmonia no seio da família. Rezam ao deus dos antepassados, que sempre os protegeu. A sua alegria é viverem entre os seus, no seio da sua família, clã ou etnia, e morrer satisfeitos depois de verem os filhos dos seus netos.
Contudo parece que esta visão está a mudar, fruto das novas alterações pelas sociedades mais modernizadas e mesmo devido à ajuda de diversas Organizações mundiais.
E estamos certos que será preciso mudar, no entanto, sem nunca esquecer que cada idoso africano é um ser dotado de um conhecimento imenso e cuja vida é certamente repleta de desafios e ensinamentos importantes para toda a sociedade. Aquilo que será necessário alterar será sem dúvida com questões ligadas à educação, saúde, alimentação, habitação entre outros. Este é um pequeno exemplo da sociedade africana, que muito mais tem para descobrir e ensinar.
Ref: Silva, P. (2009). “Envelhecimento e longevidade: narrativas de idosos moçambicanos”. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Portugal.