Conversas de Café com… o Diário de uma Gerontóloga

24 de Março, 2021 0 Por Planetadosavos

Hoje, 24 de Março, é o Dia do Gerontólogo. Uma profissão recente, mas com impacto na sociedade e nos idosos, principalmente. Para assinalar este dia, o Planeta dos Avós teve uma conversa de café com uma (des)conhecida gerontóloga que, nas suas redes sociais, partilha o dia a dia de um gerontólogo. Bem vindos à conversa de café com… o Diário de uma Gerontóloga. 

Para quem não conhece o seu trabalho, pode acompanhar nas suas redes sociais. 

Planeta dos Avós: Nós devemos ter, mais ou menos, a mesma idade. Durante a nossa infância, o ser gerontólogo não existia. Era uma profissão que não existia e não fazia parte do nosso imaginário. Quando descobriste o mundo da gerontologia? 

Diário de uma Gerontóloga: É verdade! Descobri o mundo da gerontologia no momento de me matricular na faculdade. Acho que antes disso nunca tinha visto nada em concreto acerca deste nosso “mundo”. Pesquisei em que consiste a Gerontologia e a partir daí ganhei interesse pela área.

P.A.: O que te levou a ser gerontóloga? 

D.G.: Bem, acho que foi o acaso. A Gerontologia foi a minha terceira opção de candidatura à faculdade, as duas primeiras opções diziam respeito à Terapia Ocupacional. Na altura, não entrei em Terapia Ocupacional por duas décimas, não quis esperar pela segunda fase e ingressei em Educação Social Gerontológica. Depois de ingressar no curso, fui descobrindo e gostando cada vez mais desta área. Agora, o que me levou a escolher esta área como uma das opções de candidatura? Acredito que fui influenciada pelos meus avós. Através da relação de proximidade com os meus avós apercebi-me cedo que a atitude que têm perante a vida foi influenciada pelas suas vivências e experiências, que podem aproveitar a vida independentemente da idade e que mesmo o burro velho pode aprender linguas.

P.A.: Hoje, o mundo inteiro sofre com uma pandemia, quais são as maiores dificuldades que atravessas na tua profissão? 

D.G.: Hoje, em layoff e com os Centros de Dia  fechados é muito difícil encarar o futuro, perceber o que nos espera realmente…  Parece que já foi a tanto tempo que começou esta pandemia. Entretanto já trabalhei na cozinha, já ajudei as colegas do apoio domiciliário, fazer higienes, distribuir almoços… Quando o Centro de Dia se encontrava aberto, tivemos que nos adaptar e ajudar os nossos utentes a se sentirem bem e seguros nesta nova realidade. As atividades e os materiais  utilizados também foram adaptados de acordo com as orientações e acaba por ser um grande desafio, pois temos de perceber de que forma se pode adaptar uma atividade que eles gostam muito, mas que não se pode realizar da mesma forma, por exemplo. Vivemos um dia de cada vez, com um futuro bastante incerto e cada vez que fechamos e voltamos a reabrir o centro perdemos utentes! Esta pandemia veio agravar o estado de saúde dos mais velhos e isso deixa-me muito abalada pois aqueles que foram para casa a uns meses atrás já não voltam ou voltam muito mais debilitados… Sinto realmente falta dos tempos antigos, de ver uma casa cheia, dos bailaricos improvisados, das gargalhadas, do carnaval e das marchas populares, dos passeios no verão…

P.A.: Olhando um pouco para trás, principalmente olhando para o teu percurso profissional, o que mais te orgulha de teres feito? Assim aquela atividade que ficará para sempre na tua história… 

D.G.:  Aquela atividade que fez realmente a diferença foi um passeio a Viana do Castelo. Fomos de comboio, almoçamos e visitamos o templo-monumento de Santa Luzia e  andamos de funicular. Foi aquele “passeio” que ficou gravado na memória dos utentes porque eles nunca tinham participado em nenhuma atividade do género. Ainda hoje recordam essa atividade com muito entusiasmo. 

P.A.: És uma pessoa muito ativa nas tuas redes sociais, principalmente no facebook, onde constantemente partilhas e ajudas com dicas sobre novas atividades. Isto vem um bocadinho ao encontro do nosso início de conversa. Até mesmo no mundo da internet o tema gerontologia, atividades com idosos, é muito pouco falado. O que te levou a começar a partilhar como é o trabalho de uma gerontóloga em forma de diário? 

D.G.:

Ora, iniciei a partilha do meu trabalho na rede social do Instagram em forma de diário, já lá vão 3 anos. A página do facebook foi criada mais tarde com o intuito da partilha de material. Na altura não existia tanto conteúdo como existe atualmente e senti que realmente havia uma lacuna. Então, como sou bastante simples e prática comecei a partilhar todos os dias as atividades realizadas, alguns desabafos e até mesmo algumas dicas. Muito rapidamente outros profissionais se interessaram pelo meu trabalho, partilhamos ideias e dúvidas ou preocupações, vamos nos ajudando mutuamente aprendendo sempre com as experiências vividas noutros contextos. Entretanto já fui convidada para realizar entrevistas e participar em trabalhos académicos. Acredito que páginas como a minha são essenciais para percebermos o que se faz noutros locais, inspiramo-nos do trabalho de outros profissionais e tornarmo-nos melhores profissionais.

P.A.:  O que te falta fazer?

D.G.: A nível profissional gostava de trabalhar mais perto de casa, de realizar mais formações para aprender sempre mais e abrir a minha ideia de “negócio” para poder proporcionar aos mais velhos aquilo em que acredito.

P.A.: Imaginaste Avó? Como achas que serias enquanto Avó? 

D.G.: Como profissionais da área temos todos os conhecimentos para sermos mais saudáveis e felizes enquanto idosos. Temos de cultivar as boas práticas e certamente que seremos idosos capazes de aproveitar a vida mesmo sendo avós. Gosto de me imaginar como uma avó dinâmica, com vontade de viver e de explorar coisas novas.

P.A.: Consegues definir o teu trabalho, a nossa profissão em 5 palavras? 

D.G.: Amor, paciência, criatividade, compreensão e respeito.