Conversas de Café com… Né Basto

23 de Abril, 2019 1 Por Planetadosavos

Planeta dos Avós: Boa tarde, Né! Vamos começar pelas apresentações, quem é o Né Basto?

Né Basto: O Né Basto é um indivíduo de Viana do Castelo que nasceu a 29 de Março de 1938, portanto acabei de fazer 81 anos. Tive mais cinco irmãos, eramos uma rapariga e cinco rapazes. Todos eles tiveram situações diferentes de vida, a minha foi sempre mais para a arte, para o desenho enquanto que os outros foi para oficinas. Nasci na Rua da Bandeira, uma das principais ruas da cidade de Viana do Castelo, junto ao Governo Civil, número 271 que não existe. Agora tem lá um jardim e um chafariz, precisamente no sítio onde eu nasci. Eu esperava que me erguessem algo diferente, mas foi um chafariz o que já não é mau (risos).

P.A.: Podia ser pior (risos).

N.B.: Sim, podia ser pior. Estudei na escola do Carmo, era só atravessar a linha férrea e estava na escola, que agora pertence aos Carmelitas. Depois passei, no meu último ano, na quarta classe, para a escola nova que é a que existe agora. Depois daí fui para a escola comercial, tirei o curso de formação de carpinteiro e marceneiro. Fui trabalhar para os estaleiros, primeiro como empregado de escritório e depois fui para Lisboa para a Parry & Son, onde os estaleiros eram uma sucursal da Parry & Son. Estive lá na sala de desenho, depois voltei para cá [Viana do Castelo] para a sala de desenho dos estaleiros. Seis meses depois fui para o Porto, para uma empresa de construção naval fazer todo o tipo de trabalho de construção civil, entre desenho, topografia, medições, tudo que se relaciona-se com a construção civil eu estava em cima do acontecimento. Tive lá desde 1963 até vir para Viana em 1971 para fazer a topografia da Portucel, fábrica de papel, por conta de um empreiteiro que era o meu patrão no Porto, António Alves Caeiros Lda. Como eu era de Viana, estava a viver no Porto, mas não tinha razão e como tinha futuro.

P.A.: Mudou-se de vez para Viana.

N.B.: Fiquei como fiscal de construção civil. Fiscalizei a construção da fábrica, tudo foi fiscalizado por mim, daí entrei para mal dos meus pecados e porque havia uma pessoa que não gostava de mim e me mandou para ali de castigo, praticamente, porque eu era mais para a parte do desenho e medições e essa pessoa pôs-me a chefiar vinte e cinco homens no parque de madeira. Tive lá dezassete anos revoltado contra a situação. Depois lá passei para o gabinete técnico, daí fiquei como fiscal de construção civil. Vinte e três ou vinte e quatro anos depois deixei. Em 1993, com sessenta anos saí de lá e aos sessenta e dois anos uma vida nova para mim.

P.A.: No ano em que eu nasci.

N.B.: Mas continuei a trabalhar, eu trabalhei quarenta e oito anos. Porque depois saí da Portucel e estive dois anos praticamente a não fazer nada, mas a Portucel convidou-me a fiscalizar um trabalho para lá e eu fui. Daí uma empresa de Lisboa convidou-me para fazer trabalhos de fiscalização para Lisboa, outro convite da Portucel e voltei para cá. Andei aí a fiscalizar trabalhos. Fiscalizei a parte das fundações do edifício que se fez novo para colocar as pessoas do prédio Coutinho, ali no antigo mercado. Portanto assisti ao derrube do mercado todo, escavação e construção até ao primeiro piso. Depois vim-me embora. Depois disso fui fiscalizar as águas do Minho,  as canalizações dos tubos de água que andavam a meter aí pela cidade, por Areosa, Valença, eu andei por aí. Depois acabou.

P.A.: Acabou de contar a sua parte profissional. E quais são os hobbies?

N.B.: Relativamente aos hobbies, eu sempre desejei, e porque sempre tive jeito para o desenho, fazer coisas lindas. Mas nunca tinha tempo para nada quando trabalhava. Então pensei quando me reformar vou-me dedicar a tudo e dediquei-me. Primeiro comecei com a concertina, no ano de 2000, e pintura a óleo. Estes quadros que aqui estão [podem ver nas fotografias] são todos pintados por mim. Está ali o meu auto retrato, e acontece que comecei a pintar, comecei a tocar concertina, eram duas coisas que eu amava. Em 2004 fiz a minha primeira exposição a óleo.

P.A.: Onde foi a exposição?

N.B.: A exposição foi ali no hospital velho, na Praça da Erva. Foi uma exposição diferente de todas as exposições que se fazem em Viana. Porque também sou diferente. Os meus quadros não estavam fixos, estavam soltos. Ali batia o vento. E todos os dias houve variedades na minha exposição: música sinfónica, de cordas, folclore, Augusto Canário, o grupo de jovens a tocar concertina, poesia. Muita escolha e todas as noites, às nove horas da noite.

P.A.: Havia sempre um grupo diferente.

N.B.: Absolutamente. Durante os onze dias da exposição foi formidável mesmo. Dessa exposição tive um êxito estrondoso porque de dezanove quadros, vendi doze. Só não vendi o meu auto retrato, um de Arcos de Valdevez e do Prédio Coutinho, depois fiz outras exposições e vendi o resto. Depois deixei um pouco a pintura, vou-me dedicar a outra coisa. E quando eu fui convidado para ir fazer fiscalização do prédio do Parque Nacional Ultramarino, em Lisboa, na 5 de Outubro, dentro do parque havia pintura, trabalhos em estanho, azulejos, havia lá de tudo para os reformados e familiares, eu tive de arranjar uma pessoa, um familiar, para tirar o curso de estanho. Mas eu fui mais arrojado, enquanto que os outros faziam coisinhas, eu já evoluía e ganhei dinheiro em Lisboa a vender os quadros que fazia.

P.A.: Sempre a evoluir.

N.B.: Tenho trabalhos espalhados pelo Mundo. Tenho no Brasil, na América…

P.A.: Mas de pessoas que compraram e levaram para lá?

N.B.: Sim, sim.

P.A.: Outro dos grandes hobbies do Né, e apesar de ter 81 anos, são as redes sociais. Eu vejo que o Né é assíduo no Facebook, o que mais o interessa?

N.B.: Eu sou um adepto do Facebook, vou lá todas as noites. Às vezes coisas porreirinhas que estão a passar na televisão e eu não vejo porque estou entretido no Facebook. Mergulho ali. Não sou muito virado a essas coisas, eu levanto-me, vou visitar os meus amigos pela cidade, estabelecimentos certinhos que tenho, venho almoçar, à tarde venho para aqui [atelier], tenho perdido bastantes relacionamentos porque também já estou cansado dos relacionamentos. Há pessoas que me querem bem, outras que não querem.

P.A.: Isso acontece a todos.

N.B.: Sim, é como toda a gente. Mas comigo só não quer bem quem realmente não quer mesmo gostar de mim. Eu não faço mal a ninguém, eu sou uma pessoa que tenho sede de servir. Sabe o que quer dizer isso?! Eu estou sempre à espera que me peçam para servir. E faço. Eu sou assim, tudo o que me pedirem, se no mesmo dia não conseguir, no dia a seguir tenho de conseguir aquilo que me pedem. É assim que eu faço. Agora relativamente às redes sociais, gosto de si que está a fazer um trabalho muito bonito. Estou no teatro sénior…

P.A.: Sim, no Ativa Sénior, onde nos conhecemos.

N.B.: Estou a adorar.

P.A.: Há quanto tempo está no grupo de teatro?

N.B.: Desde Setembro, este é o meu primeiro ano.

P.A.: Está mesmo há pouco tempo…

N.B.: Mas eu fui um lutador para que se conseguisse isto [grupo de teatro] aqui [em Viana do Castelo]. Depois organizaram e não me disseram nada. Eu disse à Presidente da Assembleia Geral da Câmara Municipal, a Dra. Flora, disse-lhe mesmo: “Doutora devia fazer uma escola de teatro para pessoas como nós [idosas]” e ela “ah… estamos a tratar disso”. E afinal já existe à cinco ou seis anos

P.A.: Desde 2012…

N.B.: Repare sete anos. Eu era um indivíduo que estava sempre relacionado com eles [Câmara Municipal]. Agora não. Agora não posso ver nenhum.

P.A.: O Né ganhou uma medalha de Cidadão de Mérito por parte da Câmara, deveu-se a que tipo de trabalho?

N.B.: A medalha de mérito deveu-se ao trabalho realizado na parte desportiva, não na parte cultural ou criativa. Eu sou criador, fundador e sócio número um da escola desportiva de Viana. Este clube existe desde 4 de Maio de 1975. Eu abri uma escola de patinagem. Eu e a minha filha Paula Cristina. Isto em Maio, em Fevereiro eu tinha 120 crianças a andar de patins dentro do ringue do Limia Parque, onde é o restaurante Náutico agora. Foi a partir daí [abertura da escola] que eu comecei a ter muitos inimigos. Até me perguntaram se eu era comunista.

P.A.: Sabe como é, quando se tem sucesso em alguma coisa, causa muita inveja.

N.B.: Na altura, em 1975/1976 era o comunismo que estava à frente de todos os arranques de muitas coisas, que morreram ao longo do tempo porque não houve ninguém que aguentou forte e não largou. Eu gosto disto. É isto que eu quero. Eu cheguei a zangar-me com os homens para me dedicar às crianças. Repare. Em Abril, antes de abrir a escola, eu jogava hóquei numa equipa que tinha formado, em Viana, nessa altura, fui eu que implementei tudo isso. Não havia nada em Viana.

P.A.: Daí a medalha de Cidadão de Mérito.

N.B.: Sim, isso e mais um clube de atletismo para as crianças. É tudo para as crianças. Eu só trabalho para as crianças e para os velhinhos. Então formei o Clube Atletismo Olímpico Vianense, que se dedica só ao atletismo, agora tem trail também. Isto relativamente ao desporto e à atribuição do título de Cidadão de Mérito. Eu perguntei ao Presidente se dava para ir ao cinema de graça, e ele disse-me que não (risos).

P.A.: (risos) Onde guarda a medalha?

N.B.: Esta em casa. Num quadro, emoldurei-a. As vezes passo por ela e nunca a vejo.

P.A.: Voltando aos hobbies e à sua concertina. Como aprendeu a tocar?

N.B.: Eu fiz parte do Rancho de Santa Marta, durante dois anos, em 1959 e parte de 1960. Andei um mês pela Europa: Espanha, França, Alemanha, Holanda e Bélgica. Fui sempre considerado o melhor bailarino do Grupo Folclórico no estrangeiro, fui só uma vez em Portugal. Chamaram-me de parte e disseram-me que me podia considerar o melhor bailarino deste grupo. Eu perdia horas em frente ao espelho a aprender a dançar e a corrigir os meus movimentos. Porque eu, onde entrar, tem de ser mesmo assim.

P.A.: Tem de ter perfeição em tudo o que faz?

N.B.: Sim, de outra forma não entro. Não dá. Não vale a pena. Então aconteceu que havia lá o Manuel de Samonde, um grande amigo, já faleceu, era o nosso tocador. E eu sempre pensei que um dia havia de aprender a tocar. Era sempre “um dia hei-de fazer”. Aconteceu que, no ano 2000, estava a fiscalizar um trabalho e a minha mulher telefona-me a informar que o irmão tinha comprado uma concertina e que ia para uma escola em Anha. Pus logo toda a gente atrás de uma concertina para mim. Arranjei logo, e fui para Anha. O meu primeiro professor foi o Augusto Canário. Mas ele não tem vocação para ensinar. Eu sou um auto didata da concertina.

P.A.: Vai aprendendo sozinho?

N.B.: Os primeiro passos foram dados com ele [Augusto Canário]. Depois passei para outro, mas era assim tocava um bocado, apanha, e na semana seguinte mais um bocado.

P.A.: Vai aprendendo aos bocadinhos…

N.B.: Sim. Mas eu gravava e filmava o professor e levava para casa porque eu via-me à rasca para fazer igual. Era abrir e fechar [a concertina] e tal, tal, tal. Comecei a fazer isso [gravar e filmar] e foi assim que comecei a aprender. Ia para casa e praticava muito. Coitada da minha mulher, o que ela passou. Então, que comecei a tocar e ao fim de oito meses fui num grupo a tocar sozinho na Senhora d’Agonia. Perguntei a um indivíduo se me acompanhava e ele disse-me que não porque tinha de ter uma base. Sozinho não fazia. Eu comecei logo a fazer sozinho. A atrever-me. Fazia tudo sozinho. Passado uns anos comecei a tocar para os velhinhos, costumo dizer que o meu ensaio geral e oficial era com os velhinhos. Hoje, toco o Avé Maria de Schubert e a Canção da Família com a concertina, tangos. Praticamente, quando toco quarenta e tal músicas.

P.A.: Hoje em dia faz animação em várias IPSS’s (Instituições Particulares de Solidariedade Social) com a sua concertina?

N.B.: E magia. Também sei fazer magia. Já lhe fiz magia.

P.A.: Sim, eu conheci-o a fazer magia.

N.B.: Está a ver aquela bolsinha ali? [aponta] Está cheia de magia.

P.A.: Como aprendeu a fazer magia? Aprendeu sozinho?

N.B.: Sozinho, pois claro. Eu já fiz magia na televisão.

P.A.: Já? Em que programa?

N.B.: Chama-se “ O Avô fugiu de Casa” [RTP] e nós tínhamos de mostrar as nossas habilidades. Toquei concertina e depois fiz magia. Fazia aparecer o açúcar e outras coisas. Quando vou na rua e vejo alguma criança, paro logo para fazer um pouco de magia para o miúdo. É esta a minha forma de estar na vida. É isto que me faz feliz. A colaborar com os outros. Até fiquei triste no sábado, porque um indivíduo demonstrou ficar um bocado ressabiado pela minha magia. Eu saber fazer e ele não. O mal está aí. O que revolta as pessoas contra mim é o facto de eu fazer e eles não saberem fazer. Porque não querem.

P.A.: Exatamente. Tal como o Né aprendeu, nós também podemos aprender.

N.B.: Eu não sabia fazer nada. Agora faço tudo.

P.A.: Está sempre a aprender?

N.B.: Sempre. Quando meto na cabeça que tenho de aprender uma música para tocar na concertina, toco e ensaio até saber tudo de trás para a frente. Uma dessas músicas foi o vira da Nazaré. Conhece?

P.A.: Já estive muitas vezes na Nazaré, mas não conheço o vira.

N.B.: Daqui a pouco toco para si. Depois da RTP, escrevi para a TVI para ir lá tocar concertina, mas não gostei. Depois a TVI telefonou-me a perguntar se queria ir lá outra vez e eu perguntei: “É com a Teresa Guilherme?” É Teresa Guilherme não é?

P.A.: Há uma Teresa Guilherme, não sei se foi com ela.

N.B.: Mas não foi com a Teresa Guilherme. É com uma regateira… [pensativo]

P.A.: Cristina Ferreira? Leonor Poeiras? Júlia Pinheiro?

N.B.: Júlia Pinheiro. Essa mesmo. A Júlia Pinheiro permitiu que uma senhora, que tratava de gatos abandonados, interferisse com a minha atuação. Claro que o meu papel é muito mais importante do que o dela [Júlia Pinheiro]. Digo eu. Quando fui falei de tudo um pouco, do Presidente da Câmara, da minha terra, tanto que a malta sempre me deu os parabéns porque era um bom representante de Viana do Castelo. E ao permitir que essa senhora estivesse comigo, encurteceu o meu tempo de antena ao ponto de não me deixar cantar uma quadra dedicada à Júlia Pinheiro. Estava no Hospital Novo, ligam-me da TVI para ir lá falar e tocar e eu perguntei: “É com a Júlia Pinheiro? Então não vou.” E não fui. Se fosse outro aproveita logo. Agora gostava de ir ao programa desta que passou agora para a SIC… [pensativo]

P.A.: À Cristina Ferreira?

N.B.: Sim. Mas agora está de férias e sem ela não quero ir. Também não vou ao Goucha. Tenho fotografias com o Goucha, com o Cláudio Ramos, tenho fotografias com a mais alta sociedade portuguesa desde Presidentes da República, Primeiros Ministros…

P.A.: Já tirou uma selfie com o Presidente Marcelo?

N.B.: Já. A dar-me um abraço. Pronto. Agora, com a concertina já fui tocar duas vezes aos Estados Unidos.

P.A.: A convite?

N.B.: A primeira vez fui passar uns dias a Boston. Fiquei na casa de um amigo e toquei no S. Martinho, dia 3 de Novembro. Lá é diferente. Da outra vez já foi a convite desse meu amigo. Já com espetáculos marcados. Com o dinheiro que ganhei, fiz um cruzeiro com a minha mulher. Se fosse hoje não ia. Já fui a França, com o grupo dos antigos alunos, fui tocar num espetáculo. Foi um êxito. Sei que não devia dizer isso, mas também se eu não disser ninguém sabe (risos)

P.A.: Exatamente.

N.B.: Foi um êxito: Perguntei a um magnata de lá [EUA], dono de uma rede de transportes que agora estão aqui em greve. E ele disse-me assim: “Olhe, vou-lhe dizer uma coisa, tenho visto muitos espetáculos deste género, mas como o seu nunca vi nenhum. Sozinho você enche um palco.” Eu para esse espetáculo também levei a minha Gaita Galega, que também toco. Toquei o hino francês, o português e músicas portuguesas. Agora vou aos Lares e aos Centros de Dia, com muito gosto. De graça. Ainda aqui há dias fui a S. Julião de Freixo, tem lá um lar.

P.A.: Sim, a Casa de Magalhães.

N.B.: Isso mesmo. No final, o presidente vinha com um envelope e eu não aceitei. E bem falta me fazia o dinheiro. Mas, eu passei por lá e não me custou nada parar e animar aquela malta. Então ofereci uma dádiva ao Lar. Gosto de os ver a cantar, dançar são poucos, porque um Lar é mais para pessoas mais debilitadas. São mesmo dependentes.

P.A.: Alguma vez se imaginou a ir para um Lar?

N.B.: Um dia mandaram-me escrever algo sobre a velhice e eu não escrevi nada. Porque eu não sei. Nunca fui velho. Fui sempre um homem que encarei a vida no dia a dia. Não penso que não vou fazer determinada coisa porque estou velho. Eu faço tudo. Nunca digo não aquilo que me dão para fazer. Há uma coisa que eu gostava e sonho, que era ir trabalhar ainda.

P.A.: Na sua área ou outra área completamente diferente?

N.B.: Na minha área ou algo que me aparece. Que me digam: precisávamos de um indivíduo como tu. Gostava que me convidassem para isso. Adorava faze-lo. Tenho 81 anos, mas sonho, muitas vezes com a Portucel e todo o trabalho envolvente. Aquela malta toda. É isto que me faz viver.

P.A.: Parar é morrer.

N.B.: Absolutamente. Eu sou um indivíduo diferente. Noto mesmo isso. Sou expansivo, extrovertido, quero fazer tudo e vou fazer tudo. Agora estou na medicina alternativa. Faço parte de um movimento que tenho aqui a representação do símbolo do meu movimento que se chama “Mahikari”. Aquela luz, o nosso movimento não tem santos, nem figuras, nem nada. É uma luz. E a gente imagina ali o nosso Deus. Atenção, eu sou católico, apostólico e praticante, mas nada tem a ver uma coisa com a outra. Já curei um padre do Carmo, que no fim, dentro da Igreja, ele pôs-me a mão no ombro e disse-me: “Tu és como o Cristo, pões a mão e curas.” Ele [padre do Carmo] vinha da sacristia a coxear, há três dias tinha uma dor no pé. Pus a mão no pé, passado um minuto e meio ele disse-me que sentia tudo aos trambolhões no pé. Ficou sem dores. Hoje fui à garagem com o meu carro, ali na Praia Norte, e o chefe da oficina também coxeava e eu pensei “olha ali trabalho para mim”. Doía-lhe o calcanhar. Quis fazer a experiência. Sentei-me, mandei-lhe por o calcanhar sobre a minha mão e pergunto sempre se há calor. Porque se houver calor, há cura. O calor não é a minha mão que aquece, é a força que eu transmito sobre o dói da pessoa que faz com as toxinas que estão a originar a dor fiquem fluidas e o sangue faça o seu trabalho normal. Hoje, já vem aqui pessoas para eu tratar delas. Umas vão satisfeitas, outras não. Porque há doenças e doenças. Quando é ossos, já é mais complicado.

P.A.: Mais vale não mexer.

N.B.: O stress destrói uma pessoa. Já curei hemorroidas a quatro pessoas. Nunca mais tiveram. Isto agora é aquilo que estou a levar a sério e a concertina. Dediquei-me ao estanho, tenho vários quadros.

P.A.: O que lhe falta fazer?

N.B.: Tudo.

P.A.: Mas o que gostava de aprender agora?

N.B.: Agora é o teatro. Entrei para o teatro e estou a adorar. A nossa Patrícia [professora] é um amor de jovem. É uma garota que nasceu para isto. Para lidar connosco. Não há ninguém que não receba um abraço com ternura dela [da Patrícia].

P.A.: Eu também já recebi um.

N.B.: É extraordinário. Agora estamos muito focados no trabalho, estamos a ter três ensaios por semana, porque estamos atrasados. O nosso espetáculo vai ser de uma hora, mas a Patrícia tem tudo organizado. Adoro a Patrícia. Se tivesse uma filha gostava que fosse como ela, mas eu tenho filhas adoráveis. Você deve conhecer a minha, conhece a Sara que trabalha na biblioteca com as crianças?

P.A.: Sim, conheço.

N.B.: É minha filha. Ela é criadora, é extraordinária. A outra já não, sai à mãe.

P.A.: Gostava de aprender alguma língua?

N.B.: Não, nunca me deu. E agora muito menos, porque descobri no meu telemóvel uma aplicação que tiro uma fotografia e ele traduz na hora. Um português arcaico, mas dá para perceber.

P.A.: Obrigada, Né.

N.B.: Obrigado.

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