Conversas de Café com… Manuel Gonçalves

20 de Julho, 2020 0 Por Planetadosavos

Para os vianenses o Sr. Manuel Gonçalves é uma figura conhecida. O Sr. Gonçalves e as suas fotografias “à lá minute” em Santa Luzia são tão conhecidos como os tremoços. O Planeta dos Avós foi até ao Santuário e teve uma conversa de café com Manuel Gonçalves. 

Fonte: Mundo Português

Planeta dos Avós: Boa tarde Senhor Gonçalves. Para começar a nossa conversa vou precisar de saber quantos anos tem?

Manuel Gonçalves: Boa tarde menina. Conto 91 anos.

P.A.: 91? Não lhe dava tantos anos.

M.G.: Mas já cá cantam.

P.A.: Desses 91 anos de vida, há quantos anos é fotógrafo?

M.G.: 74 anos.

P.A.: Já é uma vida. São muitos anos.

M.G.: O meu pai já tinha esta profissão.

P.A.: Então a paixão pela fotografia foi uma herança do seu pai?

M.G.: Sim, foi com ele que aprendi tudo o que sei.

P.A.: Porquê Santa Luzia? Por que escolheu este lugar para ser o seu estúdio?

M.G.: Não foi escolha minha. Foi o meu pai que me obrigou, eu não queria vir sequer. E olhe acabei por gostar e por ficar.

P.A.: O que tem de especial as suas fotografias?

M.G.: É uma fotografia antiga, menina. São todas a preto e branco. São diferentes, e por isso as pessoas vão tirando. Vai-se trabalhando.

P.A.: Claro. A sua máquina também é diferente das máquinas de hoje. Que máquina usa?

M.G.: É uma máquina muito antiga, uma Carl Zeiss. Veja lá que tem mais anos do que eu. Tem 110 anos.

P.A.: E ainda trabalha bem, sem garantias, sem nada.

M.G.: Trabalha muito bem.

P.A.: Já tirou fotografias a muitas pessoas famosas?

M.G.: Já tirei a várias.

P.A.: Dê lá um exemplo…

M.G.: Olhe menina, como pode ver ali na máquina [aponta para a máquina] tenho fotografias que tirei ao Manuel Luís Goucha e ao Malato. Depois também tirei ao Rui Veloso, mas esse ainda estava no seu início de carreira. Mas o mais importante de todos foi na altura, no tempo de Salazar, estava o Rei de Espanha, conde de Barcelona, estava de passagem por Portugal e acabei por lhe tirar uma fotografia. Era o avô deste rei que está agora.

P.A.: Então era o pai do Rei Juan Carlos de Espanha?

M.G.: Sim. Mas eu não fazia ideia quem ele era. Tirei a fotografia e depois uma senhora chegou-se à minha beira e perguntou-me: “Sabe quem é?” e eu disse-lhe que não sabia e ela disse-me assim: “Se houvesse reis em Espanha, era este o rei.” Na altura soube que ele não chegou a ser rei por questões políticas, já não sei muito bem.

P.A.: Mas mesmo assim já é uma figura muito importante para a sua história.

M.G.: Senão fosse a senhora, que estava com ele, devia ser uma assessora, eu não sabia quem era. Passava despercebido.

P.A.: Como vê o futuro da fotografia?

M.G.: O futuro, Deus me livre, ainda estamos muito distantes. Cada vez vai adiantar mais. Estão sempre a inventar coisas novas.

P.A.: Pois, agora já nada é a preto e branco. Já não são estas máquinas. É tudo com os telemóveis.

M.G.: Pois é, agora é tudo uma modernice.

P.A.: Tem ideia de quantas fotografias tira por dia?

M.G.: É difícil. Posso fazer muitas ou muito poucas. É conforme os clientes.

P.A.: Dá para ir vivendo?

M.G.: Dá.

P.A.: O Senhor Gonçalves já tem 91 anos. Pretende trabalhar até quando?

M.G.: Olhe menina [encolhe os ombros], até puder. Quando não der mais, não dá…

P.A.: Depois as fotografias a preto e branco do Senhor Gonçalves, em Santa Luzia, fica na memória de todos

M.G.: É verdade, menina.

P.A.: Obrigada, Senhor Gonçalves. Agora pode-me tirar uma fotografia?

M.G.: Posso, claro.