Conversas de Café com… Avó Rosa

25 de Março, 2020 0 Por Planetadosavos

Este é o meu sétimo dia de quarentena. Estou em casa com os meus pais, avós,  irmão e os pais da minha tia: Rosa, 84 anos, e o Manuel, 78 anos. São portugueses, mas vivem na França há uma vida.

No dia 4 de Março vieram para Portugal para passar umas “vacances” [Férias] até à Páscoa. Hoje estão em quarentena em Portugal. Vivem a quarenta connosco. 

Durante estes dias, em casa, tive uma conversa não de café, mas de sofá com a Rosa. E aqui partilho consigo.

Planeta dos Avós: Olá Rosa! Está tudo bem?

Avó Rosa: Olá! Sim, está tudo bem.

P.A.: Alguma vez pensou ficar em quarentena em Portugal?

A.R.: Não. Nunca pensei nisso, senão nem tinha marcado a viagem. Quando saímos da França já se falava neste vírus, mas não como agora. O Manel já diz que por este andar ainda vamos de vacances para a França, no mês de Agosto.

P.A.: [Risos] vai ser ao contrário.

A.R.: Sim. Vai ser ao contrário.

P.A.: Para quando está marcado o regresso?

A.R.: Dia 17 de Abril, senão estou enganada. O Manel é que toma conta destas coisas. Viemos em Março, mas a ideia era passar a páscoa. Agora já nem páscoa vamos ter. Foi tudo cancelado.

P.A.: Tem medo de não conseguir regressar à sua casa?

A.R.: Sim, tenho medo de não voltar para a minha casinha, aliás preferia lá estar.

P.A.: Por um lado é bom estar aqui, está connosco. Se estivesse na França estavam os dois sozinhos. Os tios não conseguiam ir à vossa casa

A. R.: Sim, lá as coisas estão mais apertadas e são mais rigorosas. Tem de ter um papel a dizer para onde vão. E só podem sair para ir às compras de comida, trabalhar ou ao médico. Estão sempre a ser mandados parar pela polícia e tem de mostrar o papel, senão é logo uma multa.

P.A.: Apesar de aqui estar na nossa casa, e sentir-se à vontade connosco é sempre diferente de estar na sua casa.

A.R.: Sim. A nossa casa é a nossa casa.

P.A.: Tem falado com a sua filha?

A.R.: Sim, todos os dias. Por um lado gosto de falar com ela e com o meu outro neto. Mas por outro, o que ela me conta deixa-me triste.

P.A.: Conta-lhe como se vive por lá?

A.R.: Sim. No outro dia foi comprar legumes para a sopa e não havia nada. Já não tinham cenouras, frutas. Veio embora sem nada. Eu disse-lhe para ir à minha casa, ainda tenho lá mercearia. Mas não pode ir. Ainda é um bocado longe.

P.A.: Saber disso deixa-a apreensiva…

A.R.: Sim, muito. Nunca pensei que fossemos passar por isto. Gosto de estar em Portugal. Gosto de estar convosco. Mas o meu coração está na França.

P.A.: E é para lá que vai voltar… tenho a certeza.

A.R.: Espero bem que sim.

P.A.: Tem medo do vírus?

A.R.: Não penso muito nisso. Mas tenho medo que me aconteça alguma coisa aqui. Quero morrer na minha casa, em França. Se morro aqui não sei como será.

P.A.: Não vamos pensar nisso. Se Deus quiser, a Rosa vai viver muitos anos e morrer na tranquilidade da sua casa, na França.

A.R.: Aliás, se o meu voo for cancelado terei de comprar mais medicação em Portugal. Só trouxe o necessário para o tempo que está previsto aqui estar, e como a medicação é diferente, o Manel informou-se e terei de ir a uma farmácia a Viana para encomendar.

P.A.: Não se preocupe, se assim for a medicação irá aparecer. Obrigada, Rosa.

A.R.: Obrigada eu por tudo. Principalmente por me ajudarem nesta situação.