Conversa de Café com… Avó Emília
Se tem um avó ou uma avó não é difícil reconhecer o carinho e os sábios conselhos que eles nos transmitem no nosso dia-a-dia. Quantos de nós não se lembram daquela palavra terna e meiga dos avós…. Daquelas histórias que eram contadas ora uma, duas, três… tantas vezes quanto eles se lembravam acerca do que eles próprios passavam antigamente.
Hoje fomos à procura de uma avó, de uma mulher, de uma senhora, de uma sobrevivente, que vive em sua casa e costuma frequentar uma IPSS. Falamos com ela sobre o que é ser idosa nos dias atuais…
PA: Olá, boa tarde. Bem disposta?
Avó Emília: Sim. Sinto-me bem. Vamos começar? Estou ansiosa. Sei que tem algumas questões para mim, vou tentar responder o melhor que conseguir.
PA: Tenho a certeza que sim.
AE: Vamos ver. Já tenho mais de 85 anos, os anos já pesam…
PA: O que é para si ser idosa?
AE: Ser idosa, acho que é… ser uma pessoa muito triste. Mas. quando essa idosa tem quem olhe por ela, quem a acarinhe e quem lhe dê amor, sente-se diferente. Porque aquilo que ela mais precisa neste momento é carinho, amor, que a tratem bem…tanta coisa. Quando ela não tem ninguém deve sentir-se muito desolada, porque está sozinha. Caso contrário sente-se diferente, porque tem com quem conversar, se lhe acontecer qualquer coisa podem leva-la ao hospital… e até mesmo tendo alguém ao lado dela, por vezes também se sente triste.
PA: Quais as principais dificuldades?
AE: As dificuldades são todas. Pode ter dificuldade em se vestir, em se arranjar um pouco melhor, com vontade de ir à cabeleireira e não ter quem a leve. Deve ser muito triste e eu sinto isso em mim. Estou acompanhada, mas muitas vezes também sinto isso, quando há falta de paciência.
PA: Quando era mais jovem como via os idosos?
AE: Ainda hoje com a idade que tenho, penso como pensaria se fosse mais nova: sinto pena, sinto saudade daquele tempo. E eu dizia para mim, que qualquer dia eu ia envelhecer, quando via uma velhinha a passar na rua. Aqueles velhotes que andam ali a passear sozinhos e não tem ninguém… eu mais tarde também vou ser assim! Sinto essa falta de… socorrer a pessoa, chegar ao pé dela e perguntar se precisa de alguma coisa. Eu via uma idosa, como uma pessoa amiga e que nunca foi idosa.
PA: Acha que tinham as mesmas dificuldades?
AE: Tem mais. Tem mais dificuldades agora porque o mundo anda todo às avessas e ninguém se entende. Só se entendem quando pensamos a sério numa pessoa que está doente e pedimos para a acudir, porque nós também já não podemos.
PA: Para si qual a diferença entre ser idosa mulher ou idoso homem?
AE: Penso que não há diferença desde que estão juntos. Depois, há sempre uma ajuda, um lembra o outro de tomar a medicação, o outro lembra outra… mas realmente se pensarmos bem, o homem é capaz de se sentir mais superior.
PA: Como acha que são vistas as idosas atualmente?
AE: Se a pessoa idosa tiver alguém, nem que fosse uma criança, acho que conviviam melhor, porque ao estar sozinha vai se sentir triste. Os idosos são mal vistos. A mocidade de hoje vê muito mal os pais, os avós… e os idosos sentem falta desse carinho. Sentem falta da palavra do neto, do filho… os idosos ouvem os mais jovens a dizer: olha aquele velho que vai ali… sai da frente, deixa-me passar. E não pode ser assim! Um dia os jovens também vão ser idosos e um dia também vão sentir essa falta.
PA: Defina as mulheres em 3 palavras.
AE: Têm amor, carinhosas, conscientes.
Avó Emília, 86 anos.