Conversa de Café com… Avó Emília

8 de Março, 2019 0 Por Planetadosavos

Se tem um avó ou uma avó não é difícil reconhecer o carinho e os sábios conselhos que eles nos transmitem no nosso dia-a-dia. Quantos de nós não se lembram daquela palavra terna e meiga dos avós…. Daquelas histórias que eram contadas ora uma, duas, três… tantas vezes quanto eles se lembravam acerca do que eles próprios passavam antigamente.

Hoje fomos à procura de uma avó, de uma mulher, de uma senhora, de uma sobrevivente, que vive em sua casa e costuma frequentar uma IPSS. Falamos com ela sobre o que é ser idosa nos dias atuais…

PA: Olá, boa tarde. Bem disposta?

Avó Emília: Sim. Sinto-me bem. Vamos começar? Estou ansiosa. Sei que tem algumas questões para mim, vou tentar responder o melhor que conseguir.

PA: Tenho a certeza que sim.

AE: Vamos ver. Já tenho mais de 85 anos, os anos já pesam…

PA: O que é para si ser idosa?

AE: Ser idosa, acho que é… ser uma pessoa muito triste. Mas. quando essa idosa tem quem olhe por ela, quem a acarinhe e quem lhe dê amor, sente-se diferente. Porque aquilo que ela mais precisa neste momento é carinho, amor, que a tratem bem…tanta coisa. Quando ela não tem ninguém deve sentir-se muito desolada, porque está sozinha. Caso contrário sente-se diferente, porque tem com quem conversar, se lhe acontecer qualquer coisa podem leva-la ao hospital… e até mesmo tendo alguém ao lado dela, por vezes também se sente triste.

PA: Quais as principais dificuldades?

AE: As dificuldades são todas. Pode ter dificuldade em se vestir, em se arranjar um pouco melhor, com vontade de ir à cabeleireira e não ter quem a leve. Deve ser muito triste e eu sinto isso em mim. Estou acompanhada, mas muitas vezes também sinto isso, quando há falta de paciência.

PA: Quando era mais jovem como via os idosos?

AE: Ainda hoje com a idade que tenho, penso como pensaria se fosse mais nova: sinto pena, sinto saudade daquele tempo. E eu dizia para mim, que qualquer dia eu ia envelhecer, quando via uma velhinha a passar na rua. Aqueles velhotes que andam ali a passear sozinhos e não tem ninguém… eu mais tarde também vou ser assim! Sinto essa falta de… socorrer a pessoa, chegar ao pé dela e perguntar se precisa de alguma coisa. Eu via uma idosa, como uma pessoa amiga e que nunca foi idosa.

PA: Acha que tinham as mesmas dificuldades?

AE: Tem mais. Tem mais dificuldades agora porque o mundo anda todo às avessas e ninguém se entende. Só se entendem quando pensamos a sério numa pessoa que está doente e pedimos para a acudir, porque nós também já não podemos.

PA: Para si qual a diferença entre ser idosa mulher ou idoso homem?

AE: Penso que não há diferença desde que estão juntos. Depois, há sempre uma ajuda, um lembra o outro de tomar a medicação, o outro lembra outra… mas realmente se pensarmos bem, o homem é capaz de se sentir mais superior.

PA: Como acha que são vistas as idosas atualmente?

AE: Se a pessoa idosa tiver alguém, nem que fosse uma criança, acho que conviviam melhor, porque ao estar sozinha vai se sentir triste. Os idosos são mal vistos. A mocidade de hoje vê muito mal os pais, os avós… e os idosos sentem falta desse carinho. Sentem falta da palavra do neto, do filho… os idosos ouvem os mais jovens a dizer: olha aquele velho que vai ali… sai da frente, deixa-me passar. E não pode ser assim! Um dia os jovens também vão ser idosos e um dia também vão sentir essa falta.

PA: Defina as mulheres em 3 palavras.

AE: Têm amor, carinhosas, conscientes.

Avó Emília, 86 anos.