Comunicado Associação Nacional de Gerontólogos
A Associação Nacional de Gerontólogos emitiu um comunidade sobre “O Papel do Gerontólogo nas ERPI uma profissão do presente, para o futuro.”
Assunto: Comunicado sobre o papel do Gerontólogo nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) face à conjuntura atual do país.
Tomamos a liberdade de endereçar a Vossa Excelência algumas considerações no que respeita ao perfil de competências e funções desempenhadas pelo Gerontólogo, em contexto institucional, nomeadamente em ERPI:
1. As crescentes preocupações relativas às questões do envelhecimento da população vividas mundialmente levaram ao aumento do investimento científico na área da Gerontologia, originando a criação de licenciaturas, mestrados, doutoramentos e especializações nesta área.
2. Atualmente existem quatro licenciaturas em Gerontologia/Gerontologia Social/Educação Social Gerontológica. São estas as licenciaturas que concedem o título de técnico superior em gerontologia, conferindo o acesso à profissão de Gerontólogo, existindo cada vez mais licenciados, em Portugal.
3. A Gerontologia é a área científica que se dedica ao estudo do processo de envelhecimento nas suas diversas dimensões: biológica, psicológica e social. A Gerontologia é uma ciência necessariamente multi e transdisciplinar, necessária para enfrentar os grandes desafios do envelhecimento humano.
4. O surgimento do Gerontólogo advém da necessidade de graduar profissionais formados e tecnicamente preparados para trabalhar com, e em nome, das pessoas à medida que envelhecem. Assumindo a designação de Gerontólogo, este profissional contribui para a melhoria da qualidade de vida e promoção do bem-estar das pessoas à medida que envelhecem, nos contextos familiares, da comunidade e sociedade, através da investigação, educação e aplicação de conhecimento interdisciplinar do processo de envelhecimento e das populações envelhecidas (AGHE, 2014).
5. As competências do gerontólogo assentam em três pilares: a componente da saúde, a componente psicológica e a vertente social e organizacional. Estas surgem com o intuito de (i) promover o envelhecimento ativo e saudável, (ii) diminuir a probabilidade de doença e incapacidade, mantendo os indivíduos com elevada capacidade cognitiva e funcional e (iii) fomentar o envolvimento ativo com a vida e o seu equilíbrio psicoafectivo.
6. O Gerontólogo é um profissional que compreende o que acontece com o ser humano à medida que ele envelhece; é um profissional que, pela multidisciplinariedade da sua visão e do seu conhecimento, consegue agregar as diferentes áreas do indivíduo, de modo a perpetuar uma melhor qualidade de vida e bem-estar.
7. Sendo o envelhecimento um processo tão complexo e multidisciplinar, faz sentido que todos os profissionais trabalhem em conjunto e que aceitem o melhor que cada área científica tem para oferecer, pois só deste modo otimizaremos, todos, o bem-estar das pessoas mais velhas.
8. O perfil do Gerontólogo é complexo, destacando-se o carácter multidisciplinar do seu conhecimento e, consequentemente, a sua prática interdisciplinar, pressupondo um trabalho realizado em complementaridade com os restantes profissionais (médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas fala e ocupacional, educadores sociais, animadores, auxiliares de geriatria, entre outros…), não substituindo qualquer classe ou prática profissional, mas complementado-a. Trata-se assim, de uma abordagem mais completa, holística e específica para as questões do envelhecimento, onde o gerontólogo assume a coordenação e integração das diferentes áreas.
No contexto das ERPI o Gerontólogo tem um papel interventivo na/o:
i. Avaliação, numa perspetiva biopsicossocial, as necessidades da pessoa mais velha, que possam comprometer a sua qualidade de vida, bem-estar e participação social, quer em contexto comunitário como institucional;
ii. Selecão e aplicação de instrumentos de avaliação multidimensional, validados e adaptados para a população portuguesa, à pessoa idosa, família e organizações;
iii. Planificação, acompanhamento e avaliação dos planos individuais de intervenção (cuidados) para pessoas mais velhas e suas famílias, a partir do modelo de Gestão Individual de Caso;
iv. Ativação e mobilização de recursos, formais e informais, que respondam às necessidades e expetativas das pessoas mais velhas, numa linha do continuum of care;
v. Criação, desenvolvimento e implementação de atividades e programas de envelhecimento ativo/bem-sucedido, em termos de prevenção e promoção da saúde e do bem-estar da pessoa mais velha;
vi. Encaminhamento da pessoa mais velha para outros profissionais, de domínio específico, perante a sinalização de situações de vulnerabilidade e fragilidade, em estreita articulação com as equipas de da área da saúde e social;
vii. Desenvolvimento de intervenções não farmacológicas, sustentadas em processos de avaliação de necessidades, que visem a otimização do funcionamento pessoal e social;
viii. Desenvolvimento de uma análise funcional de equipamentos sociais gerontológicos e desencadear procedimentos de gestão e garantia da qualidade dos processos;
ix. Desenho, implementação e avaliação de ações de formação, no âmbito da Gerontologia, para cuidadores formais e informais;
xi. Transferência do conhecimento científico, no âmbito da Gerontologia, para o desenvolvimento de produtos e serviços inovadores dirigidos às necessidades e interesses das pessoas mais velhas, apoiada numa prática baseada na evidência;
xii. Prestação de consultadoria na elaboração e gestão de projetos, no âmbito da Gerontologia;
xiii. Apoio e orientação das respostas sociais/serviços gerontológicos, em conformidade com os requisitos/normativos definidos na legislação em vigor.
Note-se ainda que a Gerontologia é uma ciência reconhecida mundialmente, embora no contexto português ainda haja muito desconhecimento e muito desinteresse sobre a sua
importância, o que faz permanecer estereótipos, falsas crenças, marginalizações, isolamento, abandono, solidão, violência, negligência e más práticas, já não admissíveis no século XXI e não aceitáveis à luz dos direitos humanos.
Reconhecemos que a situação que se vive atualmente nas ERPI exige a urgência na definição e desenvolvimento de estratégias, medidas de ação concretas, em contexto institucional, em estreita articulação com a área da Saúde e Segurança Social.
Por isso, acreditamos que Portugal necessita urgentemente de “absorver” os gerontólogos, profissionais formados e tecnicamente preparados, no mercado de trabalho, integrá-los nas equipas de trabalho das ERPI e reconhecer que a sua atuação se traduz numa melhor resposta às necessidades, problemas e desafios que atualmente persistem nas respostas sociais que prestam serviços e cuidados às pessoas mais velhas.
Consideramos, de facto, que a contratação e o reconhecimento dos gerontólogos se refletirá na qualidade dos serviços prestados à (nossa) população mais envelhecida. É da mais elementar justiça e dever gerontológico defender os direitos das pessoas mais velha. É tempo de (re)criar a intervenção gerontológica e construir um futuro digno para todos, independentemente da sua idade ou condição
Encontramo-nos ao dispor para quaisquer esclarecimentos adicionais,
Aveiro, 1 de setembro de 2020
Com elevada consideração,
Os nossos melhores cumprimentos,
Filipa Sousa Luz
Presidente da Associação Nacional de Gerontólogos