A Viagem ao Planeta dos Avós – parte 2
Cansado, mas feliz. À medida que os anos iam passando por Gabriel, o seu destino parecia cada vez mais caprichoso, ao atirar com aquele pobre homem, nascido de uma família humilde, para longe do seio da sociedade, encostando-a à encosta do monte para passar os dias da sua vida, que nada tiveram e têm de felizes. A sua felicidade prendia-se apenas e somente com uma única coisa: encontrar o sonho.
Assim, após 85 anos de vida naquela pobre casa, depois da morte lhe ter levado a esposa, passou a sentir com maior intensidade as dificuldades do dia-a-dia, passando a viver mais ou menos de um ou outro apoio.
Sim, era apenas Gabriel e a sua casa. Quantas vezes, ao longo destes anos de vida, este homem caiu em desânimo e chorou sozinho a sua desdita, sem que ninguém o tenha ouvido! Quantas vezes, Gabriel levantou os braços, implorando a ajuda para ir vivendo resignadamente o seu destino! Quantas vezes, olhou o sol a surgir radiante, enchendo de luz os recantos da sua humilde casa, menos o seu coração que continuava escuro e triste! Mas, na verdade, Gabe nunca desistiu e recusava-se a passar o resto dos dias de verão dentro de casa, de cabeça baixa e dos seus dias de inverno junto à lareira.
– Gabriel! Gabriel! – Exclama uma voz vinda de longe.
Gabriel, vira-se para trás e vê ao fundo alguém a aproximar e ficar cada vez mais próximo.
– Não acredito! És tu? És mesmo tu! – Surpreende-se Gabriel, ao ver quem era o homem com quem já estava frente a frente.
Era nada mais nada menos que o seu grande amigo da escola primária. Pois é, foi assim, a passear num extenso jardim, durante um dia muito nebuloso e escuro que duas pessoas amigas, nascidas em meses diferentes se encontraram. Mas, no limiar desse jardim também uma mulher acariciada por uma chuva miudinha que, formando pequenas gotas, se juntaram às que lhe brotavam dos seus olhos lacrimosos, deslizando suavemente rosto abaixo, os viu. Nesse momento, toda a neblina do céu parecia ser ultrapassada. De mãos cruzadas sobre o peito cada vez a bater mais depressa, esta mulher olha o homem que, depois de ter depositado um beijo na face rosada e cândida da mulher, diz: – Não chores… voltámos a encontrar-nos.
De mãos trémulas, afaga-lhe os cabelos brancos e deixa que as lágrimas lhe caiam sobre a face, pensando no irmão que havia encontrado. Naquele coração de mulher, não habituado a sofrer a saudade da separação que havia tido em criança, passava agora um raio de sol, pois pela primeira vez à muitos anos, se sentia acompanhada.
É verdade, quantos destes velhinhos viram, duma vez para sempre, desaparecer as suas esposas, os seus maridos, os seus entes queridos, que atraiçoados pelo destino, perderam a vida pelo caminho. Pois é, mas durante a longa caminhada, intitulada «a viagem ao planeta dos avós», só as estrelas do céu poderiam contar – se falassem – os maus bocados por que tiveram que passar todos os idosos que ainda resistem à procura de alguma coisa mais para serem felizes!
Viveram o duro e amargo sacrifício duma vida, para tornar felizes outras vidas! Verdadeiros heróis de trabalho, esquecidos por quem ignora ou quer ignorar os combates que se travam dia a dia no campo do trabalho. Assim foi a vida do Gabriel, que hoje se sente mais feliz por ter encontrado o seu melhor amigo e a sua irmã, separada pelos pais durante a infância…